Durante muito tempo, o trabalho humano não foi pensado como parte do conjunto de aspectos significativos da vida das pessoas, sendo comum manter um certo distanciamento entre trabalho e saúde mental, como se o primeiro não pudesse dizer nada sobre o segundo, como se determinados aspectos do trabalho não pudessem provocar o adoecimento mental.

Sobre essa abordagem, algumas questões se levantam: a) O que dizer sobre o trabalho na atualidade sobre a relação trabalho e saúde? b) Como demonstrar essa relação, de modo a se obter o reconhecimento dos transtornos relacionados ao trabalho e, assim, garantir tratamento adequado e amparo legal ao trabalhador?
Segundo estudiosos, o “mundo do trabalho” tem passado por profundas mudanças, as quais estão sendo provocadas pela globalização financeira, pelas inovações tecnológicas e pelas novas formas de gestão, as quais interferem diretamente no bem-estar dos trabalhadores, na forma como trabalham e, inclusive, na maneira em que se organizam coletivamente.

A precarização no mundo do trabalho é caracterizada por ritmos intensos e aumento da competitividade, falhas na prevenção e diluição das responsabilidades em relação a acidentes de trabalho, falta de reconhecimento e valorização social, fragilização dos vínculos, rupturas de trajetórias profissionais, banalização da injustiça social, dentre outras características que degradam as condições de trabalho e podem levar o trabalhador ao adoecimento físico e mental (SILVA, 2016 apud FRANCO, 2010).

O crescimento do desgaste mental dos trabalhadores pode ser verificado nas estatísticas oficiais, como as da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Previdência Social (MPS). A OMS mostra que os transtornos mentais podem atingir até 40% dos trabalhadores, sendo que 30% são considerados transtornos “menores”, e entre 5 e 10% são de nível grave. Dados do MPS mostram que os afastamentos por problemas de saúde mental cresceram muito nos últimos anos e que já são a terceira maior causa de afastamento do trabalho no país (SILVA; BERNARDO; SOUZA, 2016).

Uma das principais causas para justificar esse desgaste mental refere-se ao fato de muitos trabalhadores irem trabalhar mesmo estando com a saúde mental muito comprometida, devido a cultura que se instaurou no mercado de trabalho. Muitos trabalhadores tomam diversos remédios e, mesmo com o psicológico extremamente abalado, continuam trabalhando por medo, de perder benefícios ou até mesmo ser demitido. Essa condição denomina-se “presenteísmo”, sério problema de saúde pública, mas que infelizmente é pouco conhecida e debatida no Brasil (SILVA, 2016 apud SELIGMANN, 2011).

Para enfrentar essa problemática vislumbra-se que a saída seria a conscientização, a solidariedade e a união dos trabalhadores, bem como da sociedade. É necessária uma aproximação de todos para superar esse assunto, que está tão presente nos dias atuais.

Uma recente pesquisa realizada nos Estados Unidos traz que as gerações mais jovens têm uma probabilidade maior de sair do emprego por motivos de saúde mental, se comparado aos baby boomers.

Gerações Y e Z têm até quatro vezes mais chances de deixar o trabalho por ansiedade ou depressão

Quanto mais nova for a pessoa, maiores são as probabilidades de pedir demissão do emprego por conta de problemas relacionados à saúde mental. A pesquisa afirma que a geração do milênio (23 a 38 anos) tem três vezes mais chances — e a geração Z (18 a 22 anos) quatro vezes mais — de experimentar ansiedade no trabalho em comparação com os baby boomers (entre 55 e 73 anos), sendo que apenas 10% dos baby boomers relataram que fizeram o mesmo.

As perguntas incluíam a frequência com que os entrevistados experimentaram sintomas que podem indicar que a saúde mental estava sofrendo, como sudorese e batimentos cardíacos acelerados. Os pesquisadores queriam saber como a ansiedade dessas pessoas afetava seus empregos e se elas sentiam que tinham um bom apoio à saúde mental em seu local de trabalho.

Os resultados, publicados na Harvard Business Review, mostram que 60% disseram ter experimentado sintomas de problemas de saúde mental no ano passado. Mas analisando mais a fundo os números, 50% da geração Y e 75% da geração Z haviam deixado cargos de forma voluntária por essas razões — em comparação com apenas 20% dos entrevistados no geral. A pesquisa também descobriu que a saúde mental afeta também o desempenho no trabalho: 61% admitiu que a produtividade é prejudicada e 37% relatou que o ambiente de trabalho contribuía para os sintomas.

Por outro lado, os resultados constataram que a geração Y (63%) é a que mais tem proatividade para pedir por serviços de apoio à saúde mental em suas empresas em comparação com os baby boomers. Para Kelly Greenwood, CEO e fundadora da Mind Share Partners, o resultado da pesquisa demonstra grandes mudanças geracionais. “A primeira é a autoconsciência das condições de saúde mental, e parte disso também é a geração do milênio e a geração Z percebendo que têm opções e que não precisam ficar em algum lugar que seja prejudicial à saúde”.

Assim, conclui-se que é de extrema relevância as pessoas e as empresas debaterem sobre as condições da saúde mental dos trabalhadores, de modo que se proporcione a conscientização de todos, ou seja, essa temática é algo que precisa ser retratado no ambiente de trabalho.

REFERÊNCIAS
BORSOI, Izabel Cristina Ferreira. Da relação entre trabalho e saúde à relação entre trabalho e saúde mental: Psicologia & Sociedade, vol. 19, núm. 1, 2007. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3093/309326396014.pdf. Acesso em: 14 out. 2019.
FRANCO T, Druck G; SELIGMANN, Silva E. As novas relações de trabalho, o desgaste mental do trabalhador e os transtornos mentais no trabalho precarizado. Rev Bras Saúde Ocup. 2010.
SILVA, Mariana Pereira da; BERNARDO, Marcia Hespanhol; SOUZA, Heloísa Aparecida. Relação entre saúde mental e trabalho: a concepção de sindicalistas e possíveis formas de enfrentamento. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbso/v41/2317-6369-rbso-41-e23.pdf. Acesso em: 15 out. 2019.
Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Familia/Saude-e-Beleza-dos-pais/noticia/2019/10/geracoes-y-e-z-tem-ate-quatro-vezes-mais-chances-de-deixar-o-trabalho-por-ansiedade-ou-depressao.html. Acesso em: 17 out. 2019.

        

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